Para quem gosta de caminhos criativos

A Criatividade no Processo de Ensino-Aprendizagem

16-03-2010 12:43

Manuel Rivas, articulista do jornal El País, escreve estas palavras elucidativas e perspicazes a propósito da profissão de professor: "Ser professor não exige apenas um título académico. Um bom professor do ensino básico e secundário tem que ter o carisma de um presidente do Governo, o que está certamente ao seu alcance; a autoridade de um custódio, o que já se torna mais difícil, e os talentos combinados de um psicólogo, um palhaço, um DJ, um ajudante de cozinheiro, um puericultor, um mestre budista e um comandante da Kfor. Conheço uma professora de Ciências Naturais que apenas desarmou os seus alunos quando demonstrou uns invulgares conhecimentos futebolísticos, o que lhe permitiu abordar com entusiasmo a evolução das espécies. E um professor de Matemática que conseguiu conquistar a audiência quando interpretou um rap de Public Enemy Number One." (El País Semanal, 2 de Abril de 2000)

Segundo este texto, o bom professor deverá ser polivalentemente criativo. Ao contrário das outras profissões, em que a criatividade é determinada pelo tipo de especialização exigida para o tipo de função desempenhada, na profissão de professor é necessário revelar uma grande capacidade de representação e uma perspicácia na detecção das necessidades e motivações dos alunos com o objectivo de interessar e conseguir a participação de uma audiência em que, frequentemente, a capacidade de concentração e atenção se orienta para outros horizontes, eventualmente mais atractivos do que o do processo de ensino-aprendizagem.

O papel do professor consistirá, portanto, em tornar apelativo e, mesmo atractivo, o que, em princípio, pode parecer cinzento e descolorido, sem cair, no entanto, na facilidade gratuita. Isto significa que deve conhecer minimamente o universo em que se movem os seus alunos, um universo muito subordinado aos meios audiovisuais, às estrelas do pop-rock e às mutações contínuas das modas, a fim de lhes despertar uma criatividade, cada vez mais submergida num mundo em que os jovens se reduzem a alvos de estratégias publicitárias que os reduzem ao papel de meros consumidores passivos. Deve partir-se, então, desse universo, que não difere substancialmente da caverna platónica, para o transformar, elevando os alunos à dimensão do conhecimento e da consciência do mundo em que estão inseridos. Só assim se poderão transformar em sujeitos activos e empreendedores e em cidadãos empenhados na resolução dos problemas colectivos.

Não está em causa a criatividade do aluno, pois todos os seres humanos são criativos, embora alguns o sejam mais do que outros. Em geral, acontece que a maior parte dos indivíduos não têm possibilidade de manifestar livremente a sua criatividade durante toda a sua existência, já que desempenham uma tarefa laboral repetitiva, monótona e dependente das ordens que recebem das chefias. A criatividade manifesta-se, antes de tudo, pela capacidade de inovar e de resolver problemas inesperados, bem como pela capacidade de decidir autonomamente e, sobretudo, pelo inconformismo: não aceitar passivamente tudo aquilo que a tradição, a moda e as opiniões dominantes pretendem impor incondicionalmente.

 

O papel do professor é contribuir para o florescimento destas potencialidades criativas dos alunos, orientando-as e canalizando-as para a intervenção social e cívica, para a criação de cidadãos activos e empenhados, que nunca são submissos nem conformistas. Como diz Piaget, o inconformismo é a escola do génio: "Ao comparar o trabalho dos indivíduos com o seu antigo comportamento de adolescentes, apercebemo-nos, geralmente, de que aqueles que, entre os 15 e 17 anos, nunca construíram sistemas inserindo o seu programa de vida num vasto conjunto de reformas, ou aqueles que, ao primeiro contacto com a vida material, sacrificaram de pronto o seu ideal quimérico aos seus novos interesses de adultos, não foram os mais produtivos. A metafísica própria do adolescente, assim como as suas paixões e a sua megalomania, são assim preparações reais para a criação pessoal, e o exemplo do génio demonstra que há sempre continuidade entre a formação da personalidade, a partir dos 11 ou 12 anos, e a obra ulterior do homem" (Piaget, Jean - Seis Estudos de Psicologia, Lisboa, 1983, pág. 101).

O artigo de Joaquim Jorge Veiguinha pode ser visto aqui
         

 

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